Geração Y (Millennials)

Ninguém quer ser o azarado

São diversos os apelidos, como “narcisistas”, “preguiçosos”, “azarados”. Essa complexa e interessante geração pode ser observada por fatores que deram os indícios para as suas nomenclaturas de millennials ou geração Y, ambos os nomes podem ser facilmente encontrados para a coorte etária: são os indivíduos que nasceram entre os anos 1980 e 2000. Diferentes pesquisadores defendem as datas específicas em que uma geração inicia e termina seu tempo de influência. Não há um consenso com exatidão cronológica nesse sentido; no entanto, em grande parte da bibliografia sobre o assunto, aparecem em referência a anos próximos. Alguns autores acreditam que o ano limite para a coorte etária é entre 1981 e 1996; outros defendem entre 1977 e 1995. Para seguir uma sequência cronológica em minha pesquisa, baseio-me pelos anos de 1980 a 2000, conforme Neil Howe e William Strauss (2000).

Compreendendo a chegada da internet ao uso doméstico cerca dos anos 2000. Essa foi a geração que teve sua primeira experiência com uma web ainda com poucos recursos, sites estáticos e praticamente nenhuma interação. A internet que o adolescente millennial conheceu nascia, assim como seu conhecimento e relacionamento sobre o meio digital. A partir desse aspecto já é possível uma discussão sobre o pertencimento da geração pelos assuntos ligados à internet, pauta que há pouco foi tomada pela mídia entre a ideia de cringe. A propósito, a geração ganhou outros nomes por autores também conhecidos pela temática, entre eles “Geração Net”, de Don Tapscott (2008).

Entre as severas críticas que os millennials recebem, está o fato de se sentirem especiais, com muito estudo e poucas conquistas, como exemplo da sua casa própria. Efetivamente, pesquisas apontam que a geração é a que possui maior nível de escolaridade e que demorou mais para sair da casa dos pais, comprar seu próprio imóvel e constituir família, claro, se assim o quisesse. No entanto, as estatísticas apontam que o período da coorte dessa juventude passou por uma recessão econômica muito mais severa que as gerações anteriores (Delloite, 2015), principalmente a crise financeira de 2009 e, seguido pelo período de contração econômica iniciado em 2014, no Brasil, e por fim piorando o cenário com pandemia do Corona Vírus. Antes mesmo dos millennials chegarem ao mercado de trabalho, já encontraram barreiras que impossibilitaram sua ascensão profissional. Inicia-se um período para os millennials de crescimento econômico lento, dificultando as condições de usufruir de bons anos de economia estável para prosperar.

Certamente todas as gerações passaram por períodos de crise que atrapalharam muito suas trajetórias e conquistas. A geração X acompanhou as tensões e desfecho da Guerra Fria. No entanto, ao analisar dados apontados em um comparativo entre gerações, os millennials ganham o título de azarados, por viverem uma série de fatores que travam sua evolução financeira como um exemplo mais atual conhecido como “pejotização”, entre outros termos para transformar o trabalhador em MEI (Microempreendedor Individual) e abdicar de diversos direitos trabalhistas (CRUZ, 2022).

As barreiras são grandes, mas alguns pontos também são positivos e importantes de serem mencionados. A geração é fortemente ligada aos valores também dentro do trabalho, ou seja, é importante trabalhar em algo que realmente ela acredita. Não que antes não o fosse, mas esse discurso está enraizado nos millennials: acreditar no que faz. Inclusive, isso é alvo de discussões em livros e técnicas de engajamento para atrair millennials aos cargos por mais tempo (CRUZ, 2018). Suas revoluções ocorrem no micro muitas vezes, em ações ligadas a causas que podem ou não atingir fatores no macro, na massa. A geração é conhecida também pela sua concepção de valorizar experiências, o que se aplica a áreas da vida desde a escolha do hobby ao objetivo profissional.

Os millennials são os azarados pela conjuntura econômica, no entanto constantemente há representações dessa juventude tentando se expressar na massa, seja pelas Jornadas de Junho (2013) movimentos políticos (2018 e 2022) ou por uma microrrevolução no bairro em que vive. Constantemente também, encontramos o discurso rivalizando gerações e ironizando conquistas atrasadas dos millennials, afirmação que só contribui para um fim: pessoas ansiosas e desacreditadas, consequência essa que não começa na geração e não se finda nela. 

Referência Bibliográfica:

CRUZ, Elena. A Nova Velha Juventude: Modernidade, Mudança Social e Questões Geracionais nas Representações dos Millennials. 2018. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2018.

CRUZ, Elena. Expectativa vs. Realidade: um jeito Google de trabalhar nas representações midiáticas dos “Millennials. 2022. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2022.

HOWE, N; STRAUSS, W. Millennials Rising – The Next Great Generation. Vintage Books – Random House Inc., New York, NY, 2000.

TAPSCOTT, D. Grow up digital: How the Net Generation is Changing your World. McGraw-Hill, New York, 2008.