Como já diria Bourdieu: “Juventude é só uma palavra”

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Somos todos jovens e velhos ao mesmo tempo, entenda esse ponto de vista

No primeiro artigo deste canal, inicio com uma reflexão de Pierre Bourdieu (1983) e que, particularmente, já utilizei em outros escritos acadêmicos. O autor, em entrevista à Anne-Marie Métailié, em 1978, afirma que a divisão entre as idades pode ser arbitrária, afinal a fronteira entre juventude e velhice é objeto de disputa em diversas sociedades. A ideia de Bourdieu claramente me recorda de tempos presentes, debates, contestações e marcos diferenciadores substanciais entre cada geração, especificamente de como Millennials e Geração Z são colocados como opostos em alguns discursos midiáticos, essencialmente quando se trata do território digital.

Ainda sob a luz de Bourdieu, o conceito de tal classificação por idade pode impor limites e produzir uma ordem em que cada um deva manter o “seu lugar” social. Minha perspectiva enquanto pesquisadora lamenta que essa visão possa recair aos jovens e adultos. Diante de uma sociedade cada vez mais fluida em busca de perspectivas de expansão não só profissional, mas de vida, ser visto em “um só lugar” social nos prende em um tempo ao qual muitas realidades não se encaixam mais.

Não se trata de um desprezo pela idade de cada indivíduo, mas uma preocupação a respeito das cercas e trocas sociais predefinidas. Afinal, seremos sempre “o jovem” ou “o velho de alguém”, dependendo do prisma. A juventude e a velhice são dados construídos socialmente entre a luta de jovens e velhos (BOURDIEU, 1983). Movimentos como “cringe” podem ser apenas o alvoroço inicial de comportamentos tímidos dentro dos grupos geracionais pontuais.

Referência: BOURDIEU, Pierre. 1983. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero. P. 112-121.